sexta-feira, 26 de julho de 2013

OS TITULOS DOS SALMOS



OS TITULOS DOS SALMOS

Por Rev. Ewerton B. Tokashiki
O livro de Salmos é o mais lido nos cultos cristãos, entretanto, com raras exceções despreza-se a leitura do título original; ou o que é pior, lê-se o título colocado pela sociedade bíblica [que está em negrito] e omite-se o original. Creio que isto é fruto de uma distorcida praxe litúrgica, todavia, a ignorância não pode continuar sendo desculpa para esta falha cúltica.

Em geral, crê-se que todos os Salmos deveriam ser cantados. Mas, os títulos demonstram que isto não é verdade. Os títulos são indicadores da natureza literária de cada salmo. Alguns títulos se referem ao uso litúrgico dos salmos a serem cantados em certas ocasiões, declamados como poesia, como também são orações tanto individuais como coletivas. É possível fazer uma divisão geral dos Salmos da seguinte forma:

Há títulos descritivos da característica poética:
1. 57 salmos são chamados de mizmor. Estes se referem a música que deveria ser cantada com acompanhamento de instrumentos de cordas.
2. Shir cântico de qualquer qualidade ou espécie, ocorre 30 vezes (Sl 46, 120-134).
3. Mashkil um cântico de especial qualidade, ocorre em 13 salmos, podendo significar vários tipos de cânticos: meditativos, didáticos (Sl 32).
4. Miktam salmo com idéia de lamentação pessoal (Sl 16, 56-60).
5. Shiggayon só ocorre uma vez (Sl 7).
6. Tephillah significa “oração” (Sl 17, 86, 90, 102, 142).
7. Tehillah somente ocorre uma vez (Sl 145), significa “louvor”.

Há títulos que indicam a direção musical: 
1. Lamnatseach é a palavra que vem ao titulo de 55 salmos. A Vulgata traduz in finem, e a Versão Almeida “para o cantor mor” (IBB), e “ao mestre de canto” (SBB).
2. Neginoth aparece em 6 títulos, sempre combinado com lamnatseach. O termo significa “instrumentos de cordas”. Quatro dos títulos em que aparece, vem associado ao termo mizmor;
3. Al hashsheminith ocorre duas vezes, nos Sl 6 e 12, significa “sobre a oitava”.
4. Al ‘alamoth se encontra no título do Sl 46, significa “instrumentos de cordas”.
5. Gittith aparece em três títulos, podendo significar “canção de vindima”.
6. Nehiloth só ocorre no Sl 5, é traduzido pela SBB “para flautas”.
7. Mahalath literalmente significa “doença, aflição”, possivelmente, indicava um salmo fúnebre. No título do Sl 88 aparece como mahalath leannnoth que a SBB traduz “para ser cantado com cítara”.
8. Selah esta palavra não aparece nos títulos, mas no fim de algumas seções (Sl 46:7). Esta palavra chama a atenção por ocorrer 71 vezes no Livro I, 30 vezes no Livro II, 20 no Livro III, e 4 no Livro V. É uma indicação musical, não para ser lida, mas significando uma pausa no cântico, para um interlúdio instrumental, ou, uma elevação de som (forte).

Há títulos que indicam a tradição histórica da vida de Davi:
1. Salmo 3...................... 2 Sm 15:1-18:33
2. Salmo 18.................... 2 Sm 22:1-51
3. Salmo 30.................... 2 Sm 5:11-7:29
4. Salmo 34.................... 1 Sm 21:10-15
5. Salmo 51.................... 2 Sm 11-12:1-25
6. Salmo 52.................... 1 Sm 22
7. Salmo 54.................... 1 Sm 23; 26:1
8. Salmo 56.................... 1 Sm 21:13-15
9. Salmo 57.................... 1 Sm 24
10. Salmo 59.................... 1 Sm 19:11
11. Salmo 60.................... 2 Sm 8:13; 1 Cr 18:12
12. Salmo 63.................... 2 Sm 15:23-28
13. Salmo 142.................. 1 Sm 24:1-3

AS NOVAS TECNOLOGIA E A IGREJA

Novas Tecnologias a Serviço do Reino

Juliano Heyse
"Nós deveríamos entender a declaração de que o Espírito de Deus só habita nos crentes, como uma referência ao Espírito de santificação pelo qual somos consagrados como templos para Deus. O Senhor enche, move, e vivifica todas as coisas pelo poder do mesmo Espírito, e faz assim de acordo com o caráter que ele entrega a cada espécie pela lei da criação. Mas se Deus deseja que nós sejamos ajudados pela física, lógica, matemática e outras disciplinas como essas, façamos uso dessa ajuda. Porque se nós negligenciarmos o presente oferecido livremente por Deus nessas artes, deveríamos sofrer o justo castigo por nossa indolência." Calvino – Institutas – pg. 275

Deus interfere na história e usa a tecnologia

Deus é o Senhor da história. A história é dEle. As coisas que acontecem e os desenvolvimentos que observamos não acontecem por acaso. A Bíblia é um livro profundamente arraigado na história da humanidade. Isso é inegável. A própria ascensão do império grego e a sua absorção pelo império romano, consolidando o idioma grego como idioma universal, não é obra do acaso. Na mente de Deus havia o plano de escrever todo o Novo Testamento na língua grega, da mesma forma que o hebraico havia sido usado para a escrita do Antigo Testamento por meio de um povo fortemente estruturado e exclusivista como Israel.
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Também a pujança do império romano é como um cenário em que Deus, por seu beneplácito, planejou que viesse a plenitude dos tempos (Gl 4:4) e o Seu Filho encarnado consumasse o Seu propósito eterno para a humanidade. A expansão do Evangelho não poderia ter encontrado melhores condições do que aquelas que o império romano oferecia. Apesar das perseguições o caráter cosmopolita das cidades, as estradas, a cidadania romana do apóstolo Paulo, tudo contribuiu para a expansão do Reino.
Tecnologias como a escrita, os papiros, os pergaminhos, foram fundamentais para a colocação da Palavra de Deus na forma escrita. O surgimento dos escribas na antiguidade e dos monges na idade média serviu de base para a conservação e transmissão, no tempo e no espaço, de todo o conselho de Deus.
Entretanto, a obscuridade da Idade média fez com que a Palavra de Deus ficasse distante do povo. As Escrituras ficaram confinadas a mosteiros e universidades e não chegavam até as pessoas comuns. Mas uma nova tecnologia aliada ao levantamento por parte de Deus de alguns homens escolhidos revolucionariam tudo isso.

No passado, a imprensa

Após séculos de trevas e ignorância na igreja os séculos XIV e XV trouxeram para a Europa um fenômeno conhecido na história como Renascimento. Profundas transformações culturais, filosóficas e científicas advieram deste movimento. Uma das mais fantásticas transformações ocorridas foi a criação da imprensa.
Johannes Gensfleisch zur Laden zum Gutenberg, foi um ourives alemão nascido no ano de 1400. Atribui-se a ele a criação da imprensa devido à imensa contribuição que ele deu a essa tecnologia com a invenção dos tipos móveis metálicos, de um meio de produzir esses tipos em massa, de uma prensa especial de madeira e de um novo tipo de tinta baseada em óleo. A tecnologia desenvolvida por ele popularizou-se rapidamente e teria um papel fundamental no desenvolvimento da Reforma Protestante.
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Por meio da Reforma a Bíblia chegou às mãos do povo. E não só a Bíblia, mas livros que a explicavam e esclareciam a Sua verdadeira mensagem. Dentre esses livros estão as obras de Lutero. Nada ajudou mais a disseminação das idéias do monge alemão do que a imprensa. Foi uma parceria perfeita. Lutero chegou a dizer: “A imprensa é um presente de Deus.” 1
Noutra ocasião Lutero disse: “A imprensa permite que um pequeno camundongo, como é Wittenberg, ruja por toda a Europa.” 2 E Lutero fez uso extensivo dessa percepção. Ele escrevia livros, panfletos e tratados que eram reproduzidos rapidamente e circulavam extensamente por toda a Europa. Estima-se que nos anos 1520, um terço de todos os livros que eram impressos e vendidos na Alemanha eram da autoria de Martinho Lutero.3
Lutero não perdeu tempo em usar aquela nova tecnologia e usá-la eficazmente. Sem ela, dificilmente a Reforma teria sido o que foi.

Hoje, a internet

Ao longo dos anos outras tecnologias foram sendo utilizadas para o progresso do Evangelho. O uso da taquigrafia fez com que tivéssemos acesso aos sermões de Charles Spurgeon. E é incalculável a importância das fitas cassete para todos aqueles ao redor do mundo que aprenderam as verdades bíblicas com o Dr. Martyn Lloyd-Jones. Afinal os livros dele nada mais são que transcrições revisadas dos seus sermões pregados na Capela de Westminster.
E hoje temos algo absolutamente revolucionário mais uma vez: a internet. Muita coisa vem acontecendo no Reino de Deus por causa da internet. E muita coisa ainda vai acontecer. Talvez não estejamos cientes do potencial que essa tecnologia apresenta.
É claro que toda nova tecnologia pode ser usada pelo Reino de Deus e também pelo príncipe deste mundo. A mesma imprensa que foi utilizada de maneira tão efetiva para a Reforma, já foi usada ao longo da história para escrever e disseminar livros e revistas abomináveis aos olhos de Deus. Da mesma forma a mesma internet que pode ser usada para o bem, pode também ser usada para o mal. Isso não deveria nos impedir de “reter o que é bom.” (1 Ts 5:21)

Como a internet tem afetado o Reino de Deus

Façamos uma breve análise. De que forma a internet tem afetado o Reino de Deus? Que mecanismos ela oferece? Por que ela é importante? O que perderíamos sem ela?
Em primeiro lugar creio que o aspecto mais importante é o mesmo que a imprensa representou nos tempos da reforma: disseminação. A possibilidade de disseminação da verdade é espetacular. Grandes homens de Deus, atuando em outros países, estão à nossa disposição instantaneamente. A pregação que John Piper fizer neste domingo em Minneapolis poderá ser ouvida, lida ou assistida por qualquer um de nós na segunda-feira. Isso é impressionante. Agora podemos ter acesso não só ao que ele disse, mas com a entonação que ele utilizou e até com os gestos e expressões faciais empregados por ele. E o que é mais assustador: quase simultaneamente com os irmãos da Bethlehem Baptist Church. E o que é ainda melhor: gratuitamente.
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São muitas vantagens. E estão à nossa disposição com extrema facilidade e baixo custo. Isso não é por acaso. Como Calvino e Lutero, devemos encontrar formas de fazer uso desses recursos. Tanto os disseminadores quanto os receptores não podem perder essa oportunidade.
É interessante fazer uma comparação entre o que aconteceu nos tempos da reforma e o que ocorre hoje. Lutero e Calvino, na Europa, utilizaram a imprensa e o latim (língua universal no meio acadêmico da época) para disseminar a verdade de Deus. Eles tinham nas mãos a verdade e Deus os colocou em condições ideais para disseminá-la. Deus levantou os homens no lugar certo, na hora certa e com os meios adequados. Entendo que o mesmo ocorre hoje. Após a decadência da igreja evangélica européia, os Estados Unidos da América são o país que possui a maior quantidade de homens preparados, e que têm a verdade nas mãos em sua melhor forma. A herança evangélica da reforma foi conservada naquele país por diversas igrejas, muitos seminários e por pregadores fiéis e extremamente capazes. Não por coincidência, o inglês é hoje a língua universal e a internet é uma criação americana sobre a qual aquele país detém expressivo controle. O cenário adequado foi estabelecido.

A fé vem pelo ouvir

Com a internet, pode-se contatar qualquer irmão em qualquer lugar do mundo com extrema facilidade. Minha igreja, por exemplo, tem um missionário que está no Timor Leste, no outro lado do mundo, em um país paupérrimo e ainda assim o recurso do e-mail está disponível e é usado com extrema facilidade.
As igrejas, ministérios e até os crentes individuais podem divulgar suas idéias, seus programas, suas agendas, de maneira simples e para o mundo inteiro através da World Wide Web. Textos de grandes homens de Deus do passado e do presente estão disponíveis a custo zero. Ferramentas bíblicas e Bíblias inteiras estão disponíveis em quase todas as línguas e em inúmeras versões.
O comércio eletrônico permite que se comprem os livros que se quer sem ficar limitado, como antes, àquilo que a sua cidade oferece na livraria evangélica (Joyce Myers? Kenneth Hagin?). Tente achar um bom livro de D. M. Lloyd-Jones na maioria das livrarias evangélicas do país e você saberá do que estou falando. Hoje se pode comprar qualquer livro em qualquer lugar do mundo sem nenhum problema graças à internet.
Mas o mais impressionante é que estamos indo além da palavra escrita. Novas portas se abriram e hoje se podem ouvir os maiores pregadores da atualidade em qualquer lugar e a qualquer momento. Sermões, estudos, palestras em áudio e vídeo estão disponíveis na internet, na maioria das vezes a custo zero. A disponibilidade disso, aliada à existência e acessibilidade aos modernos iPods e MP3 players, tornaram a possibilidade de ouvir a palavra pregada com fidelidade uma coisa do dia a dia.
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Como John Piper disse em uma de suas palestras no encontro do Gospel Coalition, é incrível que você possa ouvir um novo sermão do Dr. Lloyd-Jones, segundo Piper o maior pregador do século XX, a cada segunda-feira. De fato, isso é um grande presente do Senhor para nós.

Como se equipar

Pretendo, neste artigo, ajudar a todos que tiverem interesse a ter acesso a este farto material e assim, ouvir a Palavra de Deus sendo pregada e ensinada a qualquer momento e em qualquer lugar.
A primeira coisa necessária é o acesso ao material. Você precisa de:
1. Computador com acesso à internet e placa de som. De preferência com banda larga para facilitar o download do material.
2. Lista de sites com recursos para serem baixados (mais adiante neste artigo recomendo alguns).
Só com isso já é possível baixar mensagens e ouvi-las no computador. Mas isso não é exatamente o que se quer. O ideal é poder ouvir em qualquer lugar.
Caso você tenha um gravador de CD pode converter as mensagens em formato MP3 para áudio de CD e gravá-las em CD-R podendo ouvir em qualquer aparelho de som. Isso não é muito prático porque caberia pouquíssimo material em um CD. Se o seu aparelho de som de casa ou do carro toca CD de MP3, muito melhor. Aí é possível colocar dezenas mensagens em um único CD.
Ainda assim, isso não dá total liberdade. O ideal é conseguir um MP3 player. Você pode comprar desde um iPod até modelos mais simples. Qualquer um serve. Entretanto recomendo que você compre algum dos modelos que possuem bateria interna e que permitem recarregamento da bateria no próprio computador. Todos os modelos de iPod são assim. Pela porta USB do seu computador você poderá carregar arquivos de áudio MP3 para dentro do MP3 player e aí ouvir em qualquer lugar, caminhando na rua ou deitado na cama.
No meu caso, vou além: Como o código nacional de trânsito proíbe trafegar com fones de ouvido e meu carro não tem MP3 Player, comprei um adaptador que permite transmitir o som do iPod para o rádio do carro. Aí posso escutar excelentes mensagens em meio aos congestionamentos do dia-a-dia. Xô stress!
Em termos de software, recomendo o uso do programa iTunes da Apple, já que este permite o gerenciamento de podcasts. Podcasts são arquivos de áudio e vídeo que são publicados seqüencialmente no tempo e aos quais o usuário tem acesso por meio de um tipo de assinatura. Você pode assinar quantos podcasts quiser e o iTunes gerencia e atualiza cada um deles.
Na seção seguinte recomendo diversos podcasts, além de sites para download direto de arquivos de áudio (e alguns de vídeo).

Recursos no exterior

São muitos os recursos no exterior, especialmente nos EUA. Vou começar listando alguns podcasts interessantes:
Um bom lugar para começar é no site www.oneplace.com. Lá é possível inscrever-se em diversos podcasts (cuidado porque alguns não são de boa qualidade teológica). Por via das dúvidas segue abaixo uma lista dos que eu aprecio: Desiring God Radio com John Piper, Grace to You com John MacArthur, Renewing Your Mind com R.C.Sproul, Truth for Life com Alistair Begg e The White Horse Inn com Michael Horton.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

TRANSUBSTANCIAÇÃO É BIBLICO?



O corpo de Cristo - Podemos crer na transubstanciação?


Por Edivaldo Pereira

A eucaristia é um dos sete sacramentos da Igreja Católica. Segundo o dogma católico, Jesus Cristo se acha presente sob as aparências do pão e do vinho, com seu corpo, sangue, alma e divindade. Isto é o que geralmente se entende por transubstanciação.

A doutrina da transubstanciação não tem respaldo bíblico. Ao longo de sua história, nem todos os representantes da Igreja Católica concordaram com essa doutrina, entre eles podemos citar os papas Gelásio I e Gelásio II, São Clemente e Agostinho, entre outros.

A tradição da Igreja Católica, além de tropeçar nas metáforas e figuras da Bíblia na questão da eucaristia, que por si mesma já é uma aberração teológica, consegue embutir nela mais algumas heresias, como a ministração de apenas um só dos elementos aos fiéis — a hóstia. Segundo essa doutrina, a hóstia preserva o comungante de pecados, tem poder para ajudar os mortos e, pasmem!, pode ser adorada. Tais heresias não têm o mínimo fundamento bíblico, entretanto, são de vital importância dentro da dogmática do catolicismo romano e, por isso, ainda estão de pé.

É preciso salientar ainda que a confecção da hóstia teve sua origem no paganismo, sendo, portanto, plagiada e inserida no bojo doutrinário da igreja romana.

A hóstia passou a substituir o pão da ceia somente no ano de 1200. É algo impar, especial, fabricada com trigo e sempre redonda. Por ocasião da festa de Corpus Christi1, o “Santíssimo Sacramento” é levado às ruas em procissão dentro de uma patena2 de ouro representando um sol. Podemos constatar nesse ato uma flagrante analogia com as religiões pagãs da antiguidade. Conta-se que a deusa Ceres3 era adorada como a “descobridora do trigo” e, por conta disso, representada com uma espiga de trigo nas mãos. Tal representação correspondia à deusa Mãe e seu filho. O filho de Ceres, que se encarnara no trigo, era o deus Sol. Compare essa afirmação com a doutrina católica que transformara Jesus num pedaço de pão de trigo no formato arredondado do sol cujo ostensório4 também tem um desenho com raios solares.

Por que só a hóstia?

O estudante de história da igreja sabe perfeitamente que nenhuma doutrina católica advinda da chamada “Tradição Oral”5 pode ser substanciada, quer na história dos primeiros séculos da igreja, quer na Bíblia! Nesta última, muito menos.

Os apóstolos seguiram o costume bíblico de ministrar a ceia sob esses dois emblemas: pão e vinho. A igreja pós-apostólica6 também seguiu o mesmo exemplo, como vemos ao analisar as obras patrísticas7 dos primeiros séculos. Os católicos precisam rodear e florear suas explicações para esclarecer o fato de o sacerdote dar apenas um dos emblemas (pão) ao fiel, o que é uma clara desobediência ao mandamento do Mestre. Jesus foi taxativo ao dizer “bebei dele TODOS”. Essa ordem de fato não se pode cumprir na Igreja Católica. Por mais argumentos que inventem, a verdade continua inalterável: Jesus e os apóstolos nunca mudaram o mandamento. Portanto, Jesus instituiu as duas espécies (Mt 26.26,28), e os apóstolos seguiram esta ordenança (1Co 11.23-28). Isto só veio a ser mudado nos concílios de Constança8 e, posteriormente, reafirmado no de Trento9. No entanto, voltamos a reafirmar que a ordem de Cristo foi mais que explícita: “Na verdade, na verdade vos digo que, se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Porque a minha carne verdadeiramente é comida, e o meu sangue verdadeiramente é bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele” (Jo 6. 53-56; grifo do autor).

Esse trecho das Escrituras levou dois clérigos da Igreja Católica, Jacobel de Mysa e João de Leida (séc. XIV), a voltarem ao princípio das duas espécies e logo se empenharam em espalhar isto na cidade de Praga, e não demorou muito, logo toda a Boêmia se declarou a favor. Mais tarde, João Huss foi para a fogueira papal por defender essa doutrina bíblica.

Ora, Jesus não foi explícito ao dizer que quem não bebe o seu sangue não tem parte com ele e não tem a vida eterna? Isto não serviria como uma grande advertência aos católicos? Não estariam correndo o risco de não terem parte na vida eterna? Porque na prática não bebem do sangue como disse Jesus! Se as duas espécies fossem coisa de somenos importância, de certo Jesus teria instituído uma espécie apenas: somente o pão. É certo que as Escrituras nunca fazem qualquer menção de que Cristo esteja com seu sangue embutido no pão. A linguagem usada é por demais contundente: comer e beber, pão e vinho, carne e sangue. A igreja romana tem alterado o mandamento original recusando-se a seguir o exemplo de Jesus e dos apóstolos e tem abandonado a prática de toda a igreja primitiva; prova disso é a Igreja Ortodoxa, que é tão antiga quanto a romana, e mesmo assim ainda preserva o costume bíblico de ministrar o pão e o vinho aos fiéis. Por outro lado, as igrejas evangélicas têm seguido a mesma prática instituída por Cristo sem alterações e, por isso, podem usufruir das bênçãos advindas dessas duas espécies, algo que não se dá na Igreja Católica.

O que significa discernir o corpo do Senhor?

Dentro da teologia existe uma disciplina chamada hermenêutica. O que é hermenêutica? Em toscas palavras, hermenêutica nada mais é do que a ciência de interpretar textos antigos, sendo uma das matérias de estudo no campo do Direito. Dentro do contexto teológico é a arte de interpretar a Bíblia. Dentre as inúmeras regras, a mais salutar e primordial de todas é a do exame do contexto. Vamos aplicá-la aqui.O texto em lide reza: “Porque o que come e bebe indignamente, come e bebe para sua própria condenação, não discernindo o corpo do Senhor” (1Co 11.29).

Entre os cristãos daquela época existia uma festa chamada “Festa Ágape” ou festas de amor (Jd 12). Era comum entre os cristãos celebrarem a ceia com esta refeição, destinada a ajudar os pobres (esta prática perdurou até na época de Justino, o mártir: 100-170 ).

Corinto era uma igreja problemática em termos de doutrinas (véu, dons espirituais, batismo, brigas, divisões e Santa Ceia), e eles não estavam discernindo o real objetivo de suas reuniões (v. 17,18-20). Para eles, aquilo era apenas uma festa como as demais festas mundanas da sociedade grega (Corinto era grega) da qual tinham vindo. Então, quando se reuniam, todos se embriagavam (v. 21), como faziam antes de se converterem, e não discerniam que aquilo era muito mais que uma festa, devia ser observada “em memória” de Cristo (v. 25). Por isso as pessoas deveriam examinar a si mesmas antes de tocar no pão e no cálice (v. 28), pois correriam o risco de tomarem a ceia de modo indigno, fora do propósito para a qual fora estabelecida, ou seja, para a comunhão e não divisão dos fieis (v. 18). Isto é o que o apóstolo Paulo queria dizer com “discernir o corpo do Senhor”. Não há nada que insinue no texto a herética doutrina da transubstanciação. O contexto, quando analisado honestamente, não comporta tal idéia. Logo, qualquer conclusão que passar disso não é verdadeira.

Os disparates dessa doutrina

Ensina a teologia católica a transubstanciação (alteração de substância) durante a eucaristia. Após serem consagrados os elementos, pão e vinho, pelo padre e repetidas as palavras de Cristo, “isto é o meu corpo” e “isto é o meu sangue”, misteriosamente o pão se transforma na carne de Cristo e o vinho, no sangue. Levando as palavras de Cristo a um “literalismo” bruto, interpretam ser o pão o próprio corpo de Cristo presente na hóstia. Essa doutrina é baseada principalmente no trecho do evangelho de João 6.53: “se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos”. Contudo, daremos algumas razões de nossa rejeição a essa doutrina errônea e perigosa.

1. Se na frase “isto é o meu corpo” o verbo “ser (é)” implica a conversão literal do pão no corpo de Cristo, segue-se igualmente que nas palavras “eu sou o pão da vida” (Jo 6.35) o verbo “ser (sou)” deve implicar igual mudança, ensinando-nos que Cristo se converte no pão, de modo que, se o primeiro é uma “prova” da transubstanciação, o segundo demonstra necessariamente o contrário; se o primeiro demonstra que o pão pode converter-se em Cristo, o segundo demonstra que Cristo pode converter-se em pão, o que é um verdadeiro absurdo, mas é isto o que a lógica dessa filosofia nos leva a entender.

2. Se acreditarmos que nesse episódio Jesus estava se referindo à eucaristia, então forçosamente ninguém pode se salvar sem o sacramento, e todo aquele que o recebe não pode se perder. Seria sempre necessário ao fiel comungar-se para não perder a bênção da vida eterna. E aqueles que não podem tomá-la? Estariam destinados ao inferno? Crêem os católicos que todo aquele que comunga tem a vida eterna? Pois Jesus disse que, sem exceção, “todo aquele” que comesse a sua carne teria de fato a vida eterna. E o que dizer então daqueles que bebem indignamente (1Co 11.28)? Tal é a contradição e confusão que nos mostra tão descabida teoria se levada ao pé da letra.

3. Esse ponto já foi tratado acima, mas vamos reforçá-lo aqui. Ora, se tomadas literalmente essas palavras, o beber o sangue é tão importante quanto o comer a carne. Em outras palavras, é tão necessário comer o pão (hóstia) como beber o cálice (vinho). E por que então o padre nega aos fiéis esse direito, desobedecendo a Bíblia?

Analisando João 6

Diz o padre Alberto Luiz Gambarini10: “Jesus não deixou dúvidas quanto a esta questão: a eucaristia ou ceia não é uma mera lembrança, e sim a presença por inteiro de Jesus Cristo”.11

Pois bem, analisemos essa questão dentro de seu contexto imediato, pois tais palavras tomadas isoladamente e sem explicação podem ter um sentido, mas dentro do seu respectivo contexto, levando em consideração a aplicação que o Senhor lhes deu, têm outro sentido bem distinto.

“Respondeu-lhes Jesus: Na verdade, na verdade vos digo que me buscais, não pelos sinais que vistes, mas porque comestes do pão e vos saciastes. Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do homem vos dará; porque a este o Pai, Deus, o selou” (Jo 6.26,27; grifo do autor). Essas palavras deram princípio ao discurso e são a chave para compreendermos o sentido exato e a razão pela qual Jesus usou a linguagem figurada “comer” e “beber”.

A única dificuldade que há para a compreensão desse discurso de Jesus está relacionada à falta de consideração à figura que lhe deu origem; ou seja, os judeus seguiam Jesus por causa do milagre dos pães, por causa do alimento material. Ao contrário, Jesus elucida que a comida que ele tem é algo maior: “a comida que permanece para a vida eterna” (v. 27). Então, os judeus apelam para o episódio do maná que desceu do céu. Jesus explica que o verdadeiro pão não era o maná, mas que o pão verdadeiro é outro, o próprio Cristo. Daí, disseram os judeus: “Senhor, dá-nos sempre desse pão” (Jo 6.34).

Até aqui, percebemos que os judeus não estavam entendendo a mensagem de Jesus e, por isso, interpretava-o de modo literal, assim como os católicos fazem. Jesus então explica que o sentido de sua mensagem era simbólico, espiritual, não literal: “E Jesus lhes disse: Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome, e quem crê em mim nunca terá sede” (Jo 6.35). Esse versículo é muito importante, pois nos explica que comer a carne e beber o sangue de Jesus é somente crer e ter fé nele, recebendo-o; nada mais que isso. É justamente isso que significa o alimento do seu corpo: “Porquanto a vontade daquele que me enviou é esta: Que todo aquele que vê o Filho, e crê nele, tenha a vida eterna” (Jo 6.40). Jesus rechaça qualquer tipo de confusão quanto a isso quando arremata: “O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos disse são espírito e vida” (Jo 6.63). Jesus estava falando espiritualmente, não fisicamente. Estava explicando que a vida vem por meio da fé nele, e não comendo o seu corpo.

Então, como explicar esse versículo: “...e o pão que eu der é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo” (Jo 6.51)? Será que com isso Jesus não estava ensinando sobre a eucaristia, quando os seus seguidores iriam alimentar-se dele por meio da hóstia num tempo futuro? Não necessariamente. A Bíblia ensina, sem sombra de dúvidas, que a vida eterna viria por meio de sua morte na cruz, dando seu corpo, isto é, sua carne para ser sacrificada. E isso está em perfeita concordância com o restante das Escrituras. Veja como o apóstolo Paulo entendeu essa questão: “Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; e, derrubando a parede de separação que estava no meio, na sua carne desfez a inimizade” (Ef 2.14).

A Bíblia nos diz que Cristo realmente deu seu sangue e sua carne ao mundo para alcançarmos a vida eterna. Vejamos: “E que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra, como as que estão nos céus. A vós também, que noutro tempo éreis estranhos, e inimigos no entendimento pelas vossas obras más, agora contudo vos reconciliou no corpo da sua carne, pela morte, para perante ele vos apresentar santos, e irrepreensíveis, e inculpáveis” (Cl 1.20-22) e “Pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou, pelo véu, isto é, pela sua carne” (Hb 10.20).

A conclusão a que chegamos, lendo o contexto, é que o “alimentar-se” de Jesus (seu corpo), por meio da sua carne e do seu sangue, é a mesma figura de linguagem utilizada por ele em João 4.14: “Mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna”. Assim como essa “água” era espiritual, a bebida e a comida também, tanto é que quando os discípulos entenderam de modo literal essa mensagem Jesus prontamente os corrigiu explicando que: “O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos disse são espírito e vida” (Jo 6.63). O “alimentar-se” de Cristo seria “crer nele”, quando então o Pai entregaria seu Filho na cruz para ser sacrificado por nossos pecados. Muitos pais da igreja primitiva concordavam com este ponto de vista, entre eles Agostinho, considerado um dos maiores doutores da Igreja Católica.

Lembrança ou presença real?

“Isto é o meu corpo que é partido por vós; fazei isto em memória de mim” (1Co 11.24)

Esse é o argumento mais repetido entre os católicos para sustentar a transubstanciação. Não há algo mais claro nessa passagem do que a verdade de que aquilo era realmente o corpo de Cristo, dizem os católicos.

Não precisamos nos esforçar muito para desfazer essa interpretação, basta-nos apenas recorrer ao contexto. Ora, é importante entender que Jesus instituiu a Santa Ceia na ocasião em que estava comendo a ceia pascal. Sem dúvida, ele recordava de que aquela Páscoa foi instituída para comemorar, pela aspersão do sangue do cordeiro, a saída dos israelitas do cativeiro do Egito.

O pão que Jesus tomou e abençoou e deu aos discípulos era o pão pascal. Muitos católicos dizem que Jesus não comeu aquele pão, mas tal assertiva se mostra falsa quando lemos que Jesus iria comer realmente aquela comida, veja: “E mandou a Pedro e a João, dizendo: Ide, preparai-nos a Páscoa, para que a comamos [...] E direis ao pai de família da casa: O Mestre te diz: Onde está o aposento em que hei de comer a páscoa com os meus discípulos?” (Lc 22.8,11; grifo do autor).

Todas as suas ações e palavras tinham alguma relação com a antiga Páscoa. Tendo isso em vista, devemos procurar na antiga festa uma explicação para a Santa Ceia que ele iria substituir, pois ele (Jesus) é a nossa Páscoa (1Co 5.7).

Quando Moisés instituiu a Páscoa, mandou os israelitas comerem a carne e aspergirem o sangue do cordeiro em suas casas (Êx 12.7,8). Só que o cordeiro que comiam não era a “Páscoa”, pois tal palavra é derivada do verbo pasah, que significa “passar por cima”, dando a idéia de “poupar e proteger” (Êx 12.13).

A Páscoa do Senhor era o “passar do anjo por toda a terra do Egito”. Vê-se, pois, que o ato de passar por cima das casas dos israelitas era uma coisa e o cordeiro que os israelitas comiam era outra essencialmente distinta: uma era um fato e a outra, a recordação desse fato.

Embora Moisés tivesse dito a respeito do cordeiro: “É a Páscoa” (a passagem do Senhor), isso não significa, porém, que quisesse dizer que o cordeiro que os israelitas tinham assado e estavam comendo poderia ter-se mudado ou transformado no ato de passar o Senhor por cima das casas. O sentido simplesmente era: “É uma recordação da Páscoa ou da passagem do Senhor”. Temos, pois, aqui, um exemplo clássico dessa figura de retórica pela qual se dá o nome da coisa que ela recorda, ou se põe o sinal pela coisa significada. Quando, pois, as famílias se reuniam em torno da mesa para comer a Páscoa, o chefe da família dizia: “Esta é a Páscoa do Senhor”, quando, na verdade, estava querendo dizer o seguinte: “Esta é a recordação da Páscoa do Senhor”.

Pois bem, fincado na essência dessa celebração, Jesus certamente se valeu da mesma expressão conhecidíssima dos israelitas. Depois de a Páscoa ter sido abolida e substituída pela Santa Ceia, Jesus serviu-se da mesma expressão de que tinha feito uso na celebração antiga. Era natural que, do mesmo modo que tinha dito da Páscoa “Esta é a Páscoa do Senhor”, recordando-se do que fora feito na época de Moisés, Jesus usasse também mui naturalmente as palavras “Isto é o meu corpo” ou “Isto é o meu sangue”, para significar que aquele rito devia ser usado como recordação do seu corpo e do seu sangue oferecidos na cruz, sendo ele o verdadeiro cordeiro de Deus (Jo 1.29) que nos libertou do cativeiro do pecado.

Os discípulos, por serem judeus versados nas Escrituras, estavam, por certo, familiarizados com tais figuras de linguagem (Sl 27.1,2; Is 9.18,20; 49.26), não lhes sendo difícil entender o que Jesus queria lhes dizer. Pois, antes disso, haviam ouvido o seguinte de Jesus: “Eu sou a porta” (Jo 10.7), “Eu sou o caminho” (Jo 14.6) e “Eu sou a luz do mundo” (Jo 8.12), e entenderam perfeitamente a linguagem.

Então, quando Jesus, ao distribuir os elementos da ceia (pão e vinho), disse: “isto é o meu corpo” e “isto é o meu sangue”, ele estava falando de maneira figurativa. Tanto é que ordenou: “fazei isto em memória de mim”. Assim, temos razão para crer que a ceia era uma comemoração ou lembrança de sua morte na cruz, e devemos prosseguir fazendo isso (ou seja, celebrando a Santa Ceia) até que ele venha.

Veja que mesmo depois de ter sido consagrado por Jesus, o vinho continuou sendo vinho, o que serve para corroborar o nosso ponto de vista: “Porque vos digo que já não beberei do fruto da vide [não disse meu sangue], até que venha o reino de Deus” (Lc 22.18).

Paulo simplesmente considerava os elementos da Santa Ceia como pão e vinho, e não o corpo do Senhor transubstanciado: “Semelhantemente, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é a Nova Aliança no meu sangue; fazei isto todas as vezes que beberdes, em memória de mim. Pois todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha. Portanto, qualquer que comer o pão ou beber o cálice do Senhor, indignamente, será culpado do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se o homem a si mesmo antes de comer deste pão e beber deste cálice” (1Co 11.25-28).

O pão representava o corpo do Senhor e o vinho, o sangue. Todas as vezes que nos reunimos para celebrar a Santa Ceia fazemos isto sempre em memória do Senhor, pois ele mesmo disse: “fazei isto em memória de mim”.

Não podemos sacrificar Cristo novamente (Hb 7.24,27)!

Os contra-sensos da transubstanciação

Por darem ouvido ao dogma da transubstanciação, os católicos, além de incorrerem num terrível engodo, acabam por abraçar uma teoria fictícia. Vejamos:

*Se naquela ocasião em que Jesus disse “Isto é o meu corpo” realmente tivesse ocorrido a tão propalada “transubstanciação”, então somos levados a acreditar que existiam naquele momento dois corpos do Senhor. Levando esse dogma às últimas conseqüências, teremos isto: Jesus pegou aquele pedaço de pão, já transformado em seu corpo (com divindade e alma, segundo crêem os católicos) e deu-se a si mesmo para seus discípulos comerem. Depois de terem comido o corpo do Mestre, os discípulos sentaram-se ao seu lado. E mais: Jesus também teria comido e engolido a si próprio, pois certo é que ele também participou da ceia!

*Se tal pão consagrado tivesse sido comido acidentalmente por um roedor, dar-se-ia o caso de o animal também ter engolido o Cristo com seu corpo, alma e divindade.

*Se a hóstia se estragar e apodrecer, seria o caso de o corpo de Cristo, que está nesse elemento, apodrecer também. Então, como fica Atos 2.31, que diz que a carne de Cristo não se corrompe?

*Se o que dá vida é o espírito, por que Deus se faria carne por meio da hóstia para nos vivificar?

*Se Cristo nos ordenou que celebrássemos a cerimônia até que ele voltasse, conforme 1Coríntios 11.26, como pode estar presente na hóstia? Se ele virá, quer dizer que não está! Devemos ressaltar que tal vinda é escatológica, quando Cristo virá em corpo, pois, espiritualmente, ele está conosco todos os dias (Mt 18.20, 28.20) e esta promessa não tem nada que ver com a Santa Ceia.

*O papa Pio IX se vangloriava com o dogma da transubstanciação, dizendo: “Não somos simples mortais, somos superiores a Maria. Ela deu à luz um Cristo só, mas nós podemos fazer quantos cristos quisermos; nós, os padres, criamos o próprio Deus”.

Uma coisa tão extraordinária como essa. Um milagre tão estupendo: mudar um pedacinho de pão no próprio Deus. Um milagre tão diferente de todos os que se têm notícia. Tudo isso deveria ter uma prova muito mais clara e contundente do que meras formas de expressão. É, sem dúvida, algo que foge à nossa compreensão, não por ser algo misterioso, mas por ser irracional e incoerente. Quando se prova o pão, ele ainda é pão, tem cheiro de pão, o gosto ainda é de pão. E o mesmo se dá com o vinho!

Onde temos o corpo de Cristo nisso tudo? Esquivar-se, fazendo uma separação arbitrária de milagres, visíveis para os incrédulos e invisíveis para os crentes (diga-se católicos), é ultrapassar o que está escrito.

Onde está tal divisão nas Escrituras? Em lugar nenhum!

Mas é preciso argumentar para forjar explicações que sirvam de alicerce para a doutrina católica.

Interpretação dos reformadores

Para a Reforma Protestante, são dois os sacramentos instituídos pelo próprio Cristo: o batismo, que marca o início da vida cristã, e a Santa Ceia, que significa a manutenção dessa vida, a santificação.

Unidos sobre o sentido do batismo, apesar de ênfases diversas, os reformadores se dividiram sobre o sentido da eucaristia. Lutero12 se opôs à missa como obra meritória e repetição eficaz do sacrifício do Cristo. O oferecimento da graça se efetua sob duplo signo instituído por Cristo: não se pode recusar a nenhum fiel o pão e o vinho oferecidos por Jesus, em oposição ao Concílio de Constança, de 1414, que proibiu o uso do cálice aos leigos. Contudo, Lutero opõe-se a uma presença meramente simbólica de Cristo na ceia. Mantém a tese da “consubstanciação”, segundo a qual o pão e o vinho permanecem presentes na ceia simultaneamente com o corpo e o sangue de Cristo.

Zwinglio13 vê na ceia cristã o simples memorial que comemora o sacrifício único e infinitamente suficiente de Cristo. Calvino14 queria mais do que uma presença somente simbólica à maneira de Zwinglio, mas repudiou não só a posição católica como a luterana. Para Calvino, a “substância” não se refere a um substrato invisível na matéria do objeto, mas significa a realidade profunda de um ser. O pão e o vinho não só representam a comunhão com o corpo e o sangue de Cristo, mas também “apontam” para a realidade desse significado. O que Calvino rejeitou foi a idéia da “presença local”; ele acreditava no Espírito Santo e não num fenômeno especial, para relacionar diretamente o comungante com o Cristo vivo.

O anglicanismo15 adotou o essencial das posições da Reforma. A confissão anglicana conserva dois sacramentos (batismo e ceia), proíbe as procissões solenes do Santíssimo Sacramento e a adoração das espécies consagradas. O corpo do Senhor é recebido mediante a fé (conceito calvinista). A maioria esmagadora dos protestantes aceita as noções de Calvino e Zwinglio.

Antes de finalizarmos este estudo é necessário fazer um adendo sobre a posição de Lutero. Apesar de ter sido levantado por Deus, Lutero, no princípio, não pretendia separar-se da Igreja Católica, mas reformá-la por dentro. Tendo esse pano de fundo histórico, podemos entender por que ele não abdicou de certas noções católicas. Ele representava a primeira geração dos reformadores e, por isso, muitas coisas ainda estavam enraizadas profundamente nele. Somente com o decorrer do tempo é que a doutrina da Reforma foi se purificando mais e mais. É bem parecido com o que aconteceu com o cristianismo em relação ao judaísmo no começo de sua história. Esse problema já não aparece nas gerações posteriores dos reformadores, que foram lapidando os lapsos teológicos do catolicismo dentro do protestantismo.